Relatos poéticos da Depressão
Eu estava achando o significado daqueles pensamentos sorrateiros que chegam sem avisar, daqueles pensamentos que surgiam quando tudo estava em um silêncio absoluto, mas faziam questão de deixar a minha mente extremamente barulhenta.
Por muito tempo eles me incomodaram, faziam da minha cabeça seu lar, usavam minha energia como alimento e quando não havia mais eles ainda não pareciam satisfeitos. Certa vez, tentei conversar com eles, explicar que não podia mais deixá-los ficar ali comigo, que não estava sendo um convívio bom para nós, mas não me deram ouvidos e até convidaram mais deles para permanecer ali comigo.
Comecei a me acostumar com a presença o barulho que faziam não era mais tão ensurdecedor, decidi eu mesma entregar alimento para eles, café da manhã, almoço e janta. Eu estava esgotada não conseguia mais sair, tão pouco comer, toda vez que me olhava no espelho eu os via, eles estavam tomando conta de mim, me mudando, me destruindo de dentro para fora.
Eles se tornaram minha única companhia.
Toda manhã eu sentava na varanda com chá ou café, eles gostaram do aroma e da sensação de solidão que eu sentia. Era uma semana chuvosa, o dia acinzentado, sem cor e o barulho dos pingos caindo sob o teto, nas folhas das árvores e o cheiro de terra molhada, comecei a ler um livro, a concentração era difícil e eu pedi gentilmente um momento de silêncio e pela primeira vez eles me obedeceram e tudo pareceu mais leve, mas um tanto estranho. Eu li por alguns minutos, as palavras suaves e a leitura que estava fluindo foi interrompida por uma fisgada na cabeça e eu logo percebi que o momento de silêncio havia acabado.
Em uma das conversas com eles, me disseram que não conseguiam se desfazer de mim, que era muito difícil ir embora, queriam que eu me juntasse a eles, mas eu não conseguia entender como...
Os dias foram passando e os convites foram aumentando, eu já havia pensado muito e não podia rejeitar convites tão especiais, afinal, minha presença lá onde eles estavam era requisitada. Eu coloquei a minha melhor roupa, até passei um batom, o vermelho dos meus lábios até combinava com os pingos que escorriam do meu braço e caíam no chão. Eu adormeci mas quando acordei, não me preocupei, eu estava com eles agora.
Escrito por Maria Eduarda Gomes